O lobo velho

Adoecera o lobo e, como não pudesse caçar, curtia na cama de palha a maior fome de sua vida. Foi quando lhe apareceu a raposa.
    - Bem-vinda seja, comadre! É o céu que a manda aqui. Estou morrendo de fome e se alguém não me socorre, adeus, lobo!...
    - Pois espere aí que já arranjo uma rica petisqueira - respondeu a raposa com uma idéia na cabeça.
    Saiu e foi para a montanha onde costumavam pastar as ovelhas. Encontrou logo uma, desgarrada.
    - Viva anjinho! Que faz por aqui, tão inquieta? Está a tremer...
    - É que me perdi e tremo de medo do lobo.
    - Medo do lobo? Que bobagem! Pois ignora que o lobo já fez as pazes com o rebanho?
    - Que me diz?
    - A verdade, filha. Venho da casa dele, onde conversamos muito tempo. O pobre lobo está na agonia e arrependido da guerra que moveu às ovelhas. Pediu-me que dissesse isto a vocês e as levasse lá, todas a fim de selarem um pacto de reconciliação.
    A ingênua ovelhinha pulou de alegria. Que sossego dali por diante, para ela e as demais companheiras! Que bom viver assim, sem o terror do lobo no coração!
    Enternecida disse:
    - Pois vou eu mesma selar o acordo.
    Partiram. A raposa, à frente, conduziu-a à toca da fera. Entraram. Ao da com o lobo estirado no catre, a ovelhinha por um triz que não desmaiou de medo.
    - Vamos - disse a raposa -, beije a pata do magnânimo senhor! Abrace-o, menina!
    A inocente, vencendo o medo, dirigiu-se para o lobo e abraçou-o. E foi-se a ovelha!...

 

Monteiro Lobato

 

MORAL: "Muito padecem os bons que julgam os outros por si."

 

 Crédito: Eduardo Alves Machado

 

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